13 de agosto de 2010

Uiui Cosminho

Há uns anos resolvi acampar no São João, nunca fui muito fã da festa junina e do anarriê, reuni uns amigos ótimos e fomos nos esconder no meio do mato na Reserva da Sapiranga, onde a possibilidade de ouvir forró ou bombas de mil seria remota. Meu amigo Cleibono Vox estava suando tentando armar sua gigante barraca do tempo do Woodstock, que cabia 9 pessoas em pé,tinha cozinha, suíte e jacuzzi. Até tentamos ajudar, mas só atrapalhávamos. O coitado já tinha emagrecido 2 kg montando nossa casinha de bonecas grandes. Foi ai que me sentei um pouco com Mari Jorge para conversarmos sobre religião e crenças populares, Debilda Verme que estava ouvindo o papo resolveu participar. Sentou a nossa frente e começou a relatar algo que tinha acontecido com ela:
- Há duas semanas eu estava tomando café da manhã quando a moça que trabalha lá em casa sentou na minha frente com uma expressão facial estranha, bateu palmas e falou cheguei com voz de criança. No início estranhei, mas depois percebi que era um espírito que a tinha possuído, era cosminho. Fiquei imóvel chorando e ouvindo o que ele dizia. Foi muito louco.
- E você não deu um murro na cara dela e correu? se fosse eu ia sair correndo e só voltava para casa quando ela fosse demitida. Mari concordou comigo.
Ela disse que depois disso a menina pediu pra sair porque ficou com vergonha dela. Depois que Debilda saiu para ajudar na barraca. Fiquei refletindo em silêncio sobre o que ela tinha falado, foi ai que Cleibono se aproximou de nós e nos olhou diferente, bateu palmas e gritou com voz de criança: Cheguei!
Quis fugir,mas fiquei imobilizada, quase fiz xixi nas calças de medo, só sentia a mão de Mari apertando meu braço com força. Foi ai que ele começou a rir e disse que ouviu Debilda contar a estória, que tinha visto nossa cara de medo e resolveu bancar o Cosminho. Que besta!
O problema foi que o medo não passou. Maroca já nem piscava mais, fomos ao banheiro juntas e este parecia a sala de torturas do filme jogos mortais. Lembrei que quando eu era pequena, perto da minha casa em Caetité, tinha uma senhora que recebia cosme, bem no dia do meu aniversário. Ela falava com voz de criança com uma chupeta na boca. Eu nunca vi, mas era o que diziam. Sempre depois de cantar parabéns íamos correndo para casa da mulher e ficávamos do lado de fora da casa tentando ouvir o que acontecia, só uma amiguinha teve coragem de entrar uma vez e saiu correndo de lá, era tão emocionante, uma mistura de medo e excitaçâo pelo perigo. A última notícia que tive desta mulher foi que virou evangélica.
Enfim, eu e Maroca decidimos então que não dormiríamos ali, o problema era convencer a galera a desistir de acampar, afinal depois de 4 horas, a barraca estava quase pronta. Então eu e Mari Jorge fizemos um pacto, caso não conseguíssemos convencer todo mundo para ir à uma pousada, iríamos para PF dançar forró até o dia amanhecer e só voltaríamos para o camping com o sol a pino.
Para nossa sorte a galera não se opôs a idéia, encontramos um Apartamento mobiliado em PF, depois de rodar muito e deixamos a barraca lá, até porque levaria mais 4 horas para desarmá-la e meu medo não me deixava ficar nem mais um segundo naquele lugar. Inclusive tive notícias que até dia desses a barraca de Cleibono estava sendo habitada pelo caseiro do camping.
Detalhe importante, nosso AP ficava a 30 metros do palco principal da vila e nós só descobrimos isso no outro dia de tarde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário