17 de agosto de 2011

A louca da Motoca

O progresso na minha radioativa e amada, Caeticity, começou devagar. Lembro-me que o primeiro motel da cidade foi um Bapho total. A igreja foi contra, as cidades vizinhas, a favor. Só víamos motel nas novelas das 8h. Todos tinham medo e vontade de ir, saber como era por dentro. O problema era que o porteiro do motel era primo do vizinho, do pai, do irmão, do tio do compadre da mãe de Damião (nome fictício). Não havia um portão eletrônico para entrada e outro para saída, era um só pra tudo e manual.
Detalhe mais que importante: o empreendedor da cidade, idealizador e criador do primeiro recinto de lazer para casais, o Elo Motel, era pai de uma amiga. Lembro que a galera organizava excursões para os quartos do local, só para saber se era igual aos da novela. Eu mesma fui uma vez com 5 amigos, 2 na frente e 4 escondidos no fundo do carro, dentre eles a filha do dono do recinto. Seria o único jeito para ela conhecer o ambiente mais badalado da cidade. Confesso que nos desapontamos um pouco com o quarto, estávamos esperando cama redonda, banheira de hidromassagem, mas era bem mais rústico, mais simples, de qualquer forma tava valendo pela aventura. Conversamos por uma hora, tomando Vodka Natasha com coca-cola, que tínhamos levado, e pagamos R$14,00 pelo quarto. A conta era pedida pelo telefone e aparecia numa caixa mágica, giratória, de madeira, que ficava na parede do quarto, última tecnologia. Fiquei feliz em ir, afinal, só gosto de falar sobre o que eu sei, vi, vivi ou ouvi de alguém de confiança.
Toda esta introdução foi para narrar um fato que aconteceu com uma conhecida minha e amiga da filha do dono do Motel. Ela estava numa gelada e animada noite, da maior festa de Caeticity, quando encontrou seu ficante de longa data. Ele a convidou para conhecer o mais falado local da cidade e quando ela deu por si, estava na garupa de uma moto CG 150, sem capacete, rumo ao Brás (ela jura que só fez isso, porque não estava no seu juízo perfeito). Eles aproveitaram bem o pequeno quarto e depois de algumas horas de um bom papo, pediram a conta. Ela queria sair antes do amanhecer, para não correr o risco de ser reconhecida pelos freqüentadores do local ou pelo porteiro.
Mal sabia ela que a caixa mágica giratória lhe guardava uma surpresa, digamos que desagradável. A conta deu R$28,00, mas infelizmente seu ficante havia bebido quase todo dinheiro na festa e só lhe restava R$6,00 no bolso, já ela, apesar de ter bebido bastante, continuava com os mesmos R$10,00 que havia saído de casa. Juntos possuíam R$16,00, faltando assim R$12,00 para a liberação do quarto. Ele muito calmo, ligou para o porteiro, que também era o recepcionista e explicou a situação, porém, como sempre nessas situações, a pessoa nunca pode fazer nada, sugerindo que conversassem com o dono.

- Ok! Pode chamar o Dono!

Como uma onça desvairada, minha querida avançou e desligou o telefone, gritando:

- Nãoooooooooooooooooooooooooo. O dono nãooooooooooooooooooooooooooo. Ele é pai de uma amiga minha, me conhece e não sabe nem que eu beijo na boca, que dirá que freqüento motel. Pelo amor de Deus! O dono não.

Em estado de choque, o pobre ficante tentou acalmá-la em vão. Pegou o telefone e ligou novamente para o porteiro/recepcionista, pediu pra falar com ele pessoalmente e saiu.
Passado uns 10 minutos, que para ela parecia 10 semanas, ele voltou:

- Me dá sua jaqueta!
- Minha jaqueta? Pra que?
- Vou dar de garantia.
- Oxe! Dê a sua, está muito frio!
- Vou dar as duas. Depois volto aqui pra trazer o dinheiro e pegá-las.

Foi com dor no coração e principalmente nos ossos, que ela entregou sua única proteção para aquele frio do amanhecer sem sol, na sua cidade cinza. Enquanto ele saiu para deixar as jaquetas, ela pensava na vergonha que passaria caso alguém a visse ali. O pior lugar para se estar numa cidade do interior é na “boca do povo”, seu nome seria espalhado ao vento na feira mais freqüentada do sudoeste baiano. O que diria ao Padre em confissão?
Eis que seu ficante volta, tudo estava resolvido, ele voltaria mais tarde para pagar o restante do dinheiro e resgatar as jaquetas. Hora de ligar a moto e sumir para sempre daquele lugar. Só que para deixá-la experimentar a sensação de um princípio de AVC, a moto não pegou de primeira, nem de segunda. Só na terceira tentativa, a motoca funcionou, o dia já estava claro e quando foi passar pelo portão, ela escondeu seu rosto nas costas do seu ficante, tapando parte da face com a alça da camiseta REGATA que ele estava vestindo. Ela não olhou para o porteiro, mas sabia que ele a olhava, analisava, julgava e a chamava, mentalmente, de louca da motoca.
O casal voltou calado no caminho de volta. Ora ele acelerava para chegar logo, ora reduzia a velocidade para melhorar a sensação térmica, que estava em torno de 2ºC negativo. Depois de deixá-la em casa, foi buscar o dinheiro para quitar a divida. Mais tarde se encontraram para que ele lhe entregasse sua jaqueta-cheque caução do amor e para estabelecer o pacto de silêncio que durou até a volta do Maravilhoso Mundo da Mente da Moca.




2 comentários:

  1. KKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!!!!Parece filme, Moca pq essas coisas tem que cair no seu ouvido????kkkkkk!!!!!!Gente tô me divertindo muito!!!Que situação!!!!

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  2. Amigaaaaaaaaaa morri agora de tanto rir... ass:Cláudia Chifrer

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