21 de abril de 2010

Desafios da Convivência

Londres é uma cidade tão louca que até as casas tem nome, na verdade não sei se é loucura de Inglês ou mania de brasileiro de colocar nome em tudo, o que eu sei é que minha casa se chamava 31B.
A casa era bem grande, toda de carpete azul, escadas brancas, cheia de festas improvisadas e histórias de vida emocionantes, românticas e engraçadas. Era uma novela mexicana protagonizada por paulistas e baianos e coadjuvantes internacionais. Nesta casa teve de tudo, paulista doida que jogava absorvente na privada, baiana que jogava absorvente sujo pela janela e que secava as roupas em sacolas plásticas, goiano tarado que atacava os animais da fazenda do avô, de acordo com a prima deste “veterinário”, era uma média de cinco galinhas mortas por noite dele na fazenda; tinha baiano figura que não podia ver uma peça do vestuário feminino que vestia, inclusive quase morreu descendo a escada de salto alto.
Teve um casal de Paranaenses que mantinha o romance em segredo para que o marido da moça, que também morava na casa e era agressivo não descobrisse. A situação dos dois estava difícil no Brasil e eles foram tentar a vida na Europa, mas claro que não deu certo, a vida em Londres é bem difícil para quem só quer dinheiro, verdade seja dita "Quem vive não junta, e quem junta não vive". Enfim, lógico que a bonita aqui desconfiou do caso de amor e eles acabaram confessando e juntos elaboramos um plano secreto para eles voltarem para o Brasil com o dinheiro que tinham juntado, sem que o Monstrorido, que a trancava no quarto quando ia trabalhar, desconfiasse. Tudo deu certo, eles estão juntos até hoje, com dois filhos lindos e ele sempre me liga no Natal para pedir a benção, já que eu era a mãezinha dele lá, mesmo ele sendo 12 anos mais velho.
Teve uma vez que Lu Oraite, paulista que falava inglês com sotaque de baiano (All right = Oraite), foi a uma festa e para ser legal aceitou duas gotinhas de alguma coisa que só depois descobriu que era o mais puro LSD, resumo da estória, me ligou às 4 da manhã, chorando dizendo que uma mulher com cara de árvore queria atacá-lo e que ele não sabia como chegar em casa, lógico que desliguei na cara dele super chateada com a brincadeira. Depois de uma hora, ele bate na porta do meu quarto me contando que tinha tomado, sem saber, droga pela primeira vez. Tá bom, tá bom, vá deitar que passa! Passado 15 minutos ele resolveu tocar clarinete na cozinha, me acordando de novo, desci com vontade de quebrar o instrumento e quando olhei a carinha de pânico dele, apenas disparei meu olhar calibre 38 e voltei para o quarto. Ele então cansado de me incomodar foi relaxar no quintal e se deitou na grama, olhando o dia amanhecer, foi quando ele sentiu uma sensação diferente de dormência no corpo quase prazerosa, principalmente nos braços, que logo se transformou em um ardor insuportável, foi neste momento que ele lembrou que o quintal era infestado de urtiga. Advinha em qual porta ele bateu de novo, chorando, dizendo que queria que o efeito passasse logo?
Conviver com pessoas de diferentes culturas é um aprendizado constante, o que mais aprendi no 31B foi a ter paciência e a controlar minhas emoções, principalmente quando me chamavam de baianinha ou quando diziam para os gringos que na minha terra no Brasil tinha uma música que era assim: Do you want water? Do you want water? Take, take, take, mineral water, mineral water, mineral water. Pensem na minha cara tendo que confirmar que isso era verdade!
A maior lição disso tudo foi perceber que apesar de ser um único país, existem vários “Brasis” e talvez por isso essa nossa disfarçada falta de patriotismo. Foi diferente perceber como os Paulistas valorizam os estrangeiros que foram para São Paulo, fugidos da própria Pátria por medo da guerra e impondo suas tradições, e, menosprezam os Nordestinos irmãos de sangue, que vão para São Paulo fugindo da seca e da fome. É até lamentável, em alguns casos, verem se orgulharem mais de terem uma descendência estrangeira do que de serem verdadeiramente brasileiros. Acho que é daí que vem essa crença estúpida de que tudo que é de fora é melhor,e, que de bom no Brasil só o carnaval e a seleção brasileira.
Por isso que sou obrigada a admirar os americanos que se acham os melhores e demonstram seu amor a pátria e a sua bandeira.

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