14 de setembro de 2011

1 ano de PF

Fortes emoções, grandes aprendizados e muita gastação. Várias coisas me atraem nesta cultura atípica, ou seria tipicamente tropical?! Na minha primeira semana, enquanto esperava uma amiga do trabalho, falei pro porteiro do condominio que adoraria mergulhar na piscina. No outro dia, ele mandou o outro porteiro perguntar minha amiga se eu era casada, porque achou que eu tava dando mole pra ele. Imagine?!
Uma vez, estava conversando com a diarista da casa de minha colega, e fiquei sabendo que ela ficou gravida aos 14 anos, mas que só descobriu aos 6 meses de gestação, porque, na época, ela achou que era gravidez umbigológica. Perguntei três vezes até deduzir que ela queria dizer psicológica. Aqui as meninas engravidam cedo, com 20 anos já tem 2 ou 3 filhos, mas não deixam de ir para as festas, todas lindas com os bebês nos braços, pra aprender desde cedo a arrochar. Lembro da primeira festa que fui na praça da igreja, o cantor da banda animadissimo, comandando o pagodão gritou:

- Quem não pular vai morrer essa noite.

O que teve de criança gofando por conta do saculejo. Até eu e Renatudinha demos uns pulinhos pra garantir vida longa.
Os nativos de PF são muito alegres, principalmente quando se trata da miséria alheia, tudo com um vocabulário um tanto inusitado:

Mordeu a Boca: do latim mordim boquim que significa demitido
Perdeu a Farinha: do grego perdium fari que significa morreu
Lapiar: do congresso nacional que significa roubar Maria da Péa: alusão a lei Maria da Penha que aqui não existe. Péa significa surra.
Uma vez, uma mulher foi atacada por um Pitbull , e a pessoa que me contou, ria tanto que cheguei a achar que era brincadeira. O
Certa vez estava em casa e ouvi gargalhadas na rua, dessas contagiantes, como sou a Gloria Maria de PF, tratei de conferir do que se tratava e vi um grupo de Garis, varrendo o chão e se acabando na risada. Estavam rindo de uma fulana que não queria que a filha fosse gari e o mundo deu voltas. Tive vontade de filmar e mandar pra todo mundo que reclama do trabalho.
Num aniversariante do mês, uma querida deu um piti de meu Deus porque compraram Sprite:
- Não acredito que vou ter que beber isso, eu cresci tomando garapa de limão, suco de limão e até limão com farinha, porque era o que tinha.
Já a outra se chateou porque tinha côco no bolo, pela mesma razão. Todo mundo gargalhou com os comentários sobre a infância pobre delas.
Uma das queridas que eu mais gosto diz que odeia a palavra trauma:
- Acho uma palhaçada esta coisa de trauma, eu cresci na casa dos outros, porque minha mãe saia de noite, meu pai quando morreu só deixou problema e eu nunca tive trauma. Agora as crianças tudo tem trauma. Palhaçada.
Ela é a que mais sorri. Adora aprender palavras novas comigo. Uma vez ela me ouviu falar no celular e depois que eu desliguei disse:
- Oh Moca, você falou uma palavra tão bonita, quis até anotar, mas não sabia como escrever. Pensei, pensei e lembrei que falei “me abster”. Expliquei pra ela o significado e minutos depois quando outra querida pediu a opinião dela sobre um assunto, ela rapidamente respondeu:
- Prefiro me abster.
Hoje fomos a uma pizzaria para celebrar a data e nos divertimos horrores só bebendo coca cola, já que com o surto de meningite, tivemos que tomar medicamento para nos prevenir e nada bebida alcoólica por três dias. Adoraria levá-los pra jantar num restaurante japonês, imagino as risadas, caras de nojo e a briga com o hashi.
Fico pensando em tudo que já vi e vivi e em como se chocariam em ver o que meus olhos já viram. A.B.A.F.A. Enfim, a maioria das pessoas com quem eu convivo tiveram uma infância difícil, tendo o básico do básico, mas mesmo assim não perderam as coisas mais lindas que o ser humano têm, que é o sorriso sincero e a sabedoria de tentar ser feliz com o que se tem.
Definitivamente, neste um ano de PF, a melhor coisa pra mim, não foi a praia pertinho ou o trânsito livre, muito menos a possibilidade de ir andando pra casa tarde da noite, mas sim conviver e aprender com estas pessoas, isso sim me alegra. A coisa ruim é a saudade que sinto da soterópolis, da minha família buscapé, de Love e dos amigos celebridades.

Um comentário:

  1. Parabéns Moca por enxergar esses sorrisos!Essas pessoas são mesmo especiais.bjao

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